
Escrito por Pri, do site www.meumundoem2mundos.com
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A identidade é um patrimônio valioso, ao qual muitas vezes não se dá o merecido reconhecimento, mas que acaba por surgir como questão fundamental quando nos deparamos com realidades distintas, ou seja, quando, por exemplo, nos mudamos para outro país e enfrentamos os chamados “choques culturais”. Como defendeu Lico (2015: 219), “a língua falada por um povo é parte da imagem que esse povo tem de si mesmo”. E, em alguns casos, é mais significativa do que unidades políticas. Como foi, por exemplo, o caso da Alemanha, que embora só tenha se unificado como nação em meados do século XIX, já contava, há muitos séculos, com falantes que se consideravam “alemães” antes mesmo do surgimento desse país como Estado.
É inevitável que a identidade do indivíduo, ao mudar para outro país, sofra alterações e adaptações. Berry (1997) denomina esse processo de “aculturação”. Trata-se de um processo adaptativo de mudanças culturais e psicológicas, provocadas a partir da interação contínua do sujeito com a cultura de acolhimento, e envolve quatro diferentes contextos:
a assimilação, em que o indivíduo opta por renegar sua própria identidade cultural em favor da do país de acolhimento;
a integração, na qual o sujeito quer manter sua identidade cultural, mas também pertencer ao grupo social majoritário;
a segregação, que se refere à falta de desejo de integrar-se à sociedade de acolhimento e à decisão de se manter somente as tradições representativas da identidade do país de origem;
a marginalização, que envolve a perda total de contato com ambas as culturas, de origem e de acolhimento.
A ocorrência de um ou outro tipo de processo de aculturação dependerá das chamadas flacidade e plasticidades culturais do indivíduo. Aquele detentor da flacidade cultural irá assimilar, acomodar-se, imitar e não construir, enquanto se distancia de suas raízes. O sujeito usufruidor da plasticidade cultural, por sua vez, vê a cultura de acolhimento criticamente. O velho e o novo convivem, na identidade cultural do indivíduo, de forma simbiótica. É o que a gente pôde ver na comemoração do aniversário do Oliver: costumes alemães e brasileiros convivendo, harmoniosamente. Dessa forma, a diversidade cultural e linguística não é vista como um problema e, sim, como riqueza adicional.
Portanto, dedicar-se à aprendizagem de uma língua é mais do que desejar tornar-se proficiente nela. É desenvolver um sentimento de pertencimento a uma comunidade linguística, de forma emocional e identitária. É se apropriar de um legado cultural. Enfrentar o desafio de transmitir sua língua para seu filho no exterior requer a conscientização da influência que elementos culturais e identitários exercem no processo de aprendizado de uma língua. Restringir o ensino de uma língua a seus aspectos linguísticos é o maior erro a ser cometido.
Por isso, mãos à obra! Tragam a culinária brasileira para dentro de casa, leiam histórias e cantem cantigas que marcaram sua infância, falem sobre o Brasil, expliquem sua história, valorizem sua cultura e, acima de tudo, mostrem os tantos aspectos positivos do nosso país para o seu pequeno. Esse mundo pertence a ele também e está apenas esperando para ser explorado!
E vocês? Como vocês “trazem o Brasil” para dentro de casa? Contem para a gente! Compartilhar sempre ajuda no surgimento de novas ideias! Vamos nos ajudar! =D
Foram citadas as seguintes obras:
BERRY, J. W. Immigration, Acculturation and Adaptation. In: Applied Psychology: an international review, 46, 1997. (pp. 5-68).
LICO, A. L. Família, escola e comunidade no processo de ensino-aprendizagem de PLH: do começo ao fim. In: JENNINGS-WINTERLE, Felicia; LIMA-HERNANDES, Maria Célia (Org.) Português como Língua de Herança: a filosofia do começo, meio e fim. Brasil em Mente: New York, 2015. (pp. 216-228)